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Gastos com Segurança Pública vão superar Educação e Saúde no Ceará em 2025, aponta Nota Técnica do CEDECA

Os gastos com Segurança Pública no Ceará cresceram 230,8% de 2001 a 2018. Entre 2001-2017, a taxa estadual de homicídios saltou de 17,2 homicídios por 100 mil habitantes para 56,7 homicídios por 100 mil habitantes. Mantidas as taxas atuais de evolução dos orçamentos estaduais, os gastos com Segurança Pública vão superar os gastos com Educação e Saúde (individualmente) no Ceará em 2025. Atualmente, apenas Minas Gerais e Rio de Janeiro gastam mais com Segurança do que com Educação e Saúde.

São esses alguns dos dados compilados e elaborados pelo CEDECA Ceará na sua mais recente nota técnica sobre orçamento público, lançada nesta segunda-feira (24/06) em Audiência Pública na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará.

Confira algumas fotos do lançamento da publicação

 

A publicação “Monitoramento da Política de Segurança Pública do Ceará: de qual segurança pública precisamos?” apresenta os números dos gastos nesse setor em comparação com os investimentos de outras políticas públicas, no Ceará e em Fortaleza, nos últimos anos.

A projeção apontada pelo estudo se concretiza no orçamento estadual já nos primeiros meses de 2019. De janeiro a abril de 2019, o Ceará gastou R$910,4 milhões com Saúde e R$818,6 milhões com Segurança Pública, que já superam os R$795,7 milhões investidos em Educação.  O gasto com segurança pública em 2019 (janeiro-abril) é o quarto maior das despesas totais. Fica atrás apenas de encargos especiais, previdência e saúde. À frente, portanto, de educação. O cálculo da projeção de gastos na Nota Técnica leva em conta as taxas médias anuais de crescimento entre 2016 e 2018 das três políticas públicas (Saúde, Educação e Segurança).

Confira esses e outros dados nos gráficos da Nota Técnica “Monitoramento da Política de Segurança Pública do Ceará: de qual segurança pública precisamos?”

A publicação traz outros dados alarmantes, como a representatividade de outras áreas do orçamento estadual em relação à segurança pública em 2018 – desporto e lazer (1,2%), cultura (4,1%), ciência e tecnologia (5,1%) e assistência social (11%) – e a redução dos investimentos em assistência social no Ceará em 17 anos – R$300 milhões em 2001 para R$280 milhões em 2018 – frente ao aumento dos gastos com Segurança Pública. Os valores apresentados no estudo do CEDECA estão corrigidos pela inflação. A correção inflacionária utiliza como data-base o ano de 2018.

 

Cenário em Fortaleza – O estudo também se debruça sobre o panorama do orçamento da Segurança Pública em Fortaleza. No Município, os gastos com o setor saltaram de R$68,6 milhões em 2006 para R$222 milhões em 2018, um acréscimo de 223,8% em 12 anos.

O estado do Ceará e o município de Fortaleza, em especial, atravessam uma epidemia de assassinatos de adolescentes, explicitando uma crise civilizatória sem precedentes. Ambos lideram, atualmente, o ranking do Índice de Homicídios na Adolescência. Em 2018, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), 829 meninos e meninas de 10 a 19 anos foram mortos no Ceará.

Houve um aumento de 42,5% na morte de meninas, de 2017 para 2018, passando de 80 para 114, de acordo com levantamento feito pelo Comitê Cearense de Prevenção de Homicídios na Adolescência.  Em 2018 foram mortas 59 meninas na capital cearense. Em comparação com 2016, quando foram assassinadas 6 meninas, o número de homicídios cresceu quase 10 vezes em um intervalo de dois anos, ainda segundo dados do Comitê.

Apesar desse cenário, chama a atenção que a gestão municipal tenha executado (gasto) 0% do orçamento previsto, em 2018, para o Programa Municipal Cada Vida Importa, de prevenção a essas mortes, impondo, além disso, uma redução de 96,4% no orçamento inicialmente previsto do programa.

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Audiência Pública discute o modelo atual de fiscalização de tortura em ambientes de privação de liberdade

*Lucianna Silveira (texto)

*Thiago Mendes (edição e supervisão de estágio)

Foto: Marcos Moura/Assembleia Legislativa

O debate acontece em alusão ao Dia Internacional de Apoio à Vítima de Tortura. Houve ainda lançamento da Nota Técnica sobre Segurança Pública, do CEDECA Ceará.

Foi realizada, na Assembleia Legislativa do Ceará nesta segunda (24/06), audiência pública em alusão ao Dia Internacional de Apoio à Vítima de Tortura. A audiência contou com representantes de diversos órgãos e instituições que debatem segurança pública e espaços de privação de liberdade.

A audiência chamou atenção para o decreto 9.831, publicado pela presidência da República no dia 11 de junho, que exonera os 11 peritos do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate a Tortura (MNPCT). Os peritos do MNCPT são responsáveis por fiscalizar espaços de privação de liberdade, como penitenciárias, hospitais psiquiátricos e comunidades terapêuticas. O decreto torna o trabalho dos peritos atividade não remunerada e condicionada à indicação do presidente, o que contraria a lei que criou o Mecanismo.

Entenda mais sobre o caso neste vídeo

O coordenador-geral do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate a Tortura, José de Ribamar de Araújo e Silva, que abriu a fala, citou a “tradicional seletividade penal” do sistema (penitenciário/segurança pública) e lembrou da Convenção de Genebra, que tipifica as práticas de tortura.

Ribamar chama atenção para um trecho que diz sobre o direito a água, como o mais elementar de todos os direitos e a alimentação que a pessoa privada de liberdade não pode deixar de receber. “Uma vez preso, uma vez custodiado, eles (pessoas privadas de liberdade) passam a ser responsabilidade do Estado. Ele não deve passar fome no espaço de privação de liberdade”. Sobre a exoneração dos 11 peritos do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate a Tortura, Ribamar conta que todos foram tomados de surpresa.

O Fórum Cearense da Luta Antimanicomial problematizou na ocasião a situação de pessoas privadas em liberdade em hospitais psiquiátricos e comunidades terapêuticas, como espaços em que a tortura também pode acontecer. Para Márcia Lustosa, representante do Fórum, falta política pública para saúde mental, “O que a gente vê no Brasil é um modelo de enclausuramento”, aponta.

Hélio Leitão Neto, da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, ressalta que a questão da tortura é um problema que acompanha o Brasil desde o princípio e lembra que a tortura só foi com a criação da Lei 9455, de 1997.

Para o advogado, a prática de tortura é seletiva, com alvos negros, pardos, analfabetos e periféricos. “O grande torturador tem nome e sobrenome: o Estado Brasileiro”, resume. Ele também reiterou a importância da criação de um mecanismo estadual de fiscalização. “A OAB enxerga o Mecanismo como um importante papel no controle social”, ressalta.

Rogéria Oliveira Rodrigues, representante do Conselho Estadual de Direitos Humanos, apontou para a demora na criação de um mecanismo estadual. “Não é por falta de dinheiro”, alerta.

A representante do governo na mesa, Lia Ferreira Gomes, da Secretaria da Proteção Social, Justiça, Mulheres e Direitos Humanos, se colocou à disposição para ouvir as demandas acerca das denúncias de maus tratos e torturas nos sistemas penitenciários e de privação de liberdade e mencionou a importância da fiscalização do poder público. A gestora relatou ainda sobre uma reunião para tratar desses assuntos com o secretário da Casa Civil, Élcio Batista.

Ana Virgínia Porto, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-CE, lamentou a extinção do Mecanismo Nacional e lembrou que os mecanismos de controle são importantes para a democracia. “O Estado democrático que tem medo de se autoavaliar, ele não é um estado democrático”, provocou a advogada.

Julianne Melo, representando o Comitê Estadual de Prevenção e Combate a Tortura, citou a implementação de fardamentos para os familiares (incluindo crianças) ao realizar visitas nos presídios cearenses, “uma violação que além do preso, abarca também os familiares”. A advogada ressaltou ainda a importância da criação do Mecanismo Estadual de Combate a Tortura. “A gente tem cada vez mais expectativa que o Governo do Estado vá na contramão (do governo Federal), e implemente um mecanismo de direito”.

Renan Santos, do Fórum Permanente de Organizações Não-Governamentais de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fórum DCA), chamou atenção sobre o recorrente número de denúncias de práticas de tortura na grande maioria dos espaços de privação de liberdade do Estado. Para o advogado, há um ato de violência institucional antes, durante e depois da privação. “A gente pede, reivindica que o Estado mude sua prática de segurança pública”, finaliza.

Intervenção – Durante a audiência, familiares de pessoas do sistema prisional realizaram uma intervenção expondo e denunciando os meus tratos e situações humilhantes vividas dentro de penitenciárias cearenses durante os procedimentos de rotinas. “A gente não quer aplausos, a gente quer direito garantido. As mortes continuam acontecendo. Os procedimentos continuam acontecendo de forma violenta”, comenta uma das familiares ao final da apresentação. “As violências geradas dentro das CPPLs serão lá fora também violências”, finaliza. Outra das mulheres presentes na intervenção denuncia: “A pior tortura que tem é a falta de atendimento médico”.

A sessão foi presidida pelo deputado estadual Renato Roseno, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania. Estiveram presentes na mesa a secretária-executiva de cidadania e direitos humanos da Secretaria da Proteção Social, Justiça, Mulheres e Direitos Humanos, Lia Ferreira Gomes; Hélio Leitão Neto, Presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB; José de Ribamar de Araújo, do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate a Tortura; Ana Virgínia Porto, Presidente da Comissão de Direitos Humanos – OAB; Ruth Leite Vieira, presidente do Conselho Penitenciário do Ceará – Copen; Isabela Mustafá da Comissão de Direito Penitenciário da OAB; Márcia Lustosa, do Fórum Cearense da Luta antimanicomial; Rogéria Oliveira Rodrigues, do Conselho Estadual de Direitos Humanos; Julianne Melo representando o Comitê Estadual de Prevenção e Combate a Tortura; Renan Santos, representando Fórum DCA e Hugo, Porto do Ministério Público do Ceará.

Durante a audiência, houve lançamento da Nota Técnica sobre Segurança Pública, do CEDECA Ceará. Saiba mais:

Gastos com Segurança Pública vão superar Educação e Saúde no Ceará em 2025, aponta Nota Técnica do CEDECA

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