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CEDECA Ceará aprimora conhecimento em litígio estratégico internacional

O Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (CEDECA Ceará) recebeu em julho o advogado da linha de litígio estratégico internacional da Justiça Global, Eduardo Baker, no terceiro e último encontro de uma agenda de formação interna sobre litigância de casos em instâncias internacionais. O CEDECA Ceará possui um caso e uma medida cautelar na sede da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que inclusive foi alvo de monitoramento neste primeiro semestre pelo governo federal.

A formação ajuda a instituição cearense a redesenhar metodologias de incidência dentro do contexto jurídico e social no qual se encontra. A defesa dos direitos de crianças e adolescentes se faz por diferentes frentes e, estando cientes de que as esferas estaduais e nacionais por vezes não são suficientes para prover a efetivação de direitos, se faz necessária uma atuação interconectada que seja capaz de propagar internacionalmente as nossas demandas por justiça.

Em maio de 2023, o CEDECA Ceará participou em Brasília de reunião solicitada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), onde apresentou evidências que comprovam o descumprimento total ou parcial das sete medidas cautelares (MC 60-15) aplicadas pela CIDH em 2015 ao Estado Brasileiro.

As medidas cautelares 60-15 foram concedidas por meio da Resolução 71/2015, abrangendo as unidades socioeducativas Patativa do Assaré, São Miguel, Dom Bosco e adolescentes oriundos majoritariamente do São Francisco transferidos provisoriamente para o presídio militar de Aquiraz. Destaca-se que a concessão das medidas cautelares teve uma enorme contribuição para visibilizar o quadro de violações de direitos que contorna o sistema socioeducativo do estado do Ceará, especialmente o das unidades indicadas.

Sobre a Justiça Global

A Justiça Global é uma organização não governamental de direitos humanos que trabalha com a proteção e promoção dos direitos humanos e o fortalecimento da sociedade civil e da democracia. Fundada em novembro de 1999, nossas ações visam denunciar violações de direitos humanos; incidir nos processos de formulação de políticas públicas, baseadas nos direitos fundamentais e na equidade de gênero e raça; impulsionar o fortalecimento das instituições democráticas; e exigir a garantia de direitos para as vítimas de violações e defensoras/es de direitos humanos. Estamos organizados em quatro programas temáticos e uma área administrativa, conformando uma equipe multidisciplinar, que realiza suas atividades articulando estratégias de pesquisa e documentação, litigância, advocacy, comunicação e formação.

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Para enfrentar a violência: mais direitos e menos armas

Os episódios trágicos de violência nas escolas têm nos devastado profundamente. Ao mesmo tempo, tem nos revelado os impactos de uma sociedade fortemente marcada pelo aumento do discurso de ódio, pela legitimação de comportamentos agressivos e pelo avanço do ultraconservadorismo e extremismo de direita . Como ponto de partida, acreditamos que para avançarmos na proteção de crianças e adolescentes, bem como de toda a comunidade, e no enfrentamento da violência no ambiente escolar precisamos refletir profundamente sobre as causas desse problema.

Nos últimos 20 anos, foram contabilizados 23 ataques com violência em escolas no Brasil, de acordo com a pesquisa feita pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Destaca-se que episódios como esses não foram registrados em anos anteriores . Então, se esse fenômeno é recente, que contexto o Brasil vivenciou no último período?

Devido às medidas de relaxamento no porte de armas aprovadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, o número de pessoas com licenças de porte aumentou 473% em quatro (04) anos. Em 2018, havia 117.400 registros ativos para Caçador, Atirador Desportivo e Colecionador (CAC), e em junho de 2022 atingiu 673,8 mil, o maior valor da série histórica desde 2005 . Os dados são do Anuário de Segurança Pública, com base em informações do Exército.

Outro fato relevante, é o aumento de representantes da chamada “bancada da bala” em espaços de poder no Brasil. A exemplo, de acordo com o estudo do Instituto Sou da Paz, em 2022 foram eleitos para o Congresso Nacional e para as Assembleias, um total de 103 representantes que tinham passagem pelas Forças Armadas e pelas Polícias .

Em paralelo, é fundamental considerar que as Políticas de Assistência Social e as Políticas de Saúde no Brasil sofreram cortes orçamentários significativos e impactos da austeridade nos últimos anos , o que agravou as vulnerabilidades sociais, no contexto da pandemia, vivenciados por crianças e adolescentes, e pela população em geral. Essas políticas na vida concreta das famílias, por exemplo, significa o acesso aos equipamentos do CRAS, CREAS, CAPS, e que tornam possível a inserção das mesmas em programas sociais, bem como o acesso à atendimento psicossocial, psicológico e psiquiátrico.

Não por acaso, é preciso também resgatar um pouco antes que, a partir de 2014, o país vivenciou o surgimento de movimentos como o denominado “Escola Sem Partido”, vinculado a organizações de extrema direita. Esse período ficou marcado pelo avanço do ultraconservadorismo na educação, sobretudo pela tramitação de projetos de lei em todo o Brasil para proibir que os temas relacionados à “gênero” e “sexualidade” fossem discutidos nas escolas. Além disso, esses grupos provocaram graves ataques aos direitos de crianças e adolescentes, à laicidade da escola, à liberdade de aprender e ensinar, ao pluralismo de ideias e à gestão democrática do ensino.

Outras medidas aprovadas como a “Reforma do Ensino Médio – em 2017 ” e o “Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares – PECIM – em 2019 ” também são elementos relevantes a serem analisados. Essas políticas são exemplos de esvaziamento do papel social da Escola na formação humana de crianças e adolescentes. Representaram a retirada do pensamento crítico, da diversidade, da problematização, da possibilidade da escola ser um espaço coletivo de partilhas e aprendizados. Na sociedade em que a gente vive, que é uma democracia, o investimento público deve priorizar políticas públicas que combinem educação de qualidade, democracia e direitos humanos. A aposta em um modelo de escola como o que estabelece o Novo Ensino Médio e/ou o PECIM é uma aposta em uma educação antidemocrática e autoritária, e que é terreno fértil para a violência nas escolas.

Quando tragédias de violência em escolas acontecem, há uma tendência a serem adotados discursos acalorados em defesa da adoção de uma política de segurança ostensiva e do recrudescimento do Estado. No entanto, a partir da compreensão de que a violência é um fenômeno multifacetado e que se relaciona diretamente com os contornos políticos em disputa, devemos avançar no debate sobre medidas que sejam capazes de construir transformações sociais, e que intervenham nas causas do problema.

Devemos aprender com a história: as políticas ostensivas de segurança não vão impedir que esses fenômenos aconteçam. Nos EUA, após o massacre de Columbine em 1999, houve um investimento altíssimo em policiamento, e em vigilância e fiscalização nas escolas. No entanto, os dados revelaram novos episódios de tiroteio e de estudantes que experienciaram a violência armada. A escola, portanto, deve ser um espaço de acolhimento para crianças e adolescentes, profissionais e comunidade escolar, e não um espaço de vigilância e fiscalização.

O Estado deve garantir que a escola, para além da sua relevância e da função principal para a garantia do constitucional direito à educação, tenha todas as condições de desenvolver o importante papel social para as crianças e adolescentes, bem como para todas as comunidades, como espaço de proteção, de prevenção à violência, de promoção da segurança alimentar, de sociabilidade, de acolhimento das diversidades e de superação das suas vulnerabilidades.

Apesar de contarmos com dispositivos legais que reconhecem os diferentes perfis socioculturais, étnicos e raciais dentro do ambiente escolar, no cotidiano diversos estudantes sofrem as terríveis consequências produzidas por anos de uma extrema-direita alavancada. Entre a população negra, dados recentes demonstram que a desigualdade educacional, segue identificada através de um marcador racial. Conforme levantado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Educação 2019, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 71,7% dos jovens fora da escola são negros, e apenas 27,3% destes são brancos. Importante pontuarmos que dentro de um Estado atravessado por políticas de extermínio da população jovem e negra, a educação deve despontar enquanto prioridade absoluta para impedir o recrudescimento da violência, seja ela de ordem física ou subjetiva, considerando que os efeitos do racismo, discriminação e intolerância afeta consideravelmente o desenvolvimento pedagógico de grupos historicamente marginalizados.

Diante de todo esse contexto, é preciso também refletir: “quem está mais vulnerável a essas situações?”. Em sua maioria, os casos de violência nas escolas no Brasil foram protagonizados por jovens do sexo masculino, brancos, que cultuavam armas, que tiveram experiências de sofrimento e violência no ambiente da escola, que apresentavam comportamos de isolamento social e de adoecimento mental. Essas características comuns refletem como o machismo – e a masculinidade tóxica, a misoginia, a discriminação, afetam a vida de crianças e adolescentes e as comunidades. Compreendemos que a família, a sociedade e o Estado possuem o dever fundamental de combater as opressões e a exclusão escolar.

O nosso campo de organizações e movimentos de direitos humanos, que defende o direito à educação pública, gratuita e de qualidade, tem propostas concretas. Fortalecemos as recomendações da Campanha Nacional pelo Direito à Educação para o enfrentamento da violência nas escolas , que envolve ações integradas da família, da sociedade e do Estado. Defendemos mais direitos e políticas sociais para crianças e adolescentes, para profissionais da educação e para as comunidades. E afirmamos que não aceitaremos viver em uma sociedade que cultua às armas e que mata crianças e adolescentes. Que as escolas sejam espaços de proteção, de inclusão e livres de violência.

[1] Disponível em: <https://media.campanha.org.br/acervo/documentos/Relatorio_ExtremismoDeDireitaAtaquesEscolasAlternativasParaAcaoGovernamental_RelatorioTransicao_2022_12_11.pdf>. Acesso em: 05/04/2023.

[2] Disponível em: <Estudo inédito mostra que Brasil teve pelo menos 23 ataques violentos a escolas desde 2002 | Blog da Andréia Sadi | G1 (globo.com)>. Acesso em: 05/04/2023.

[3] Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/06/28/licencas-para-armas-crescem-quase-cinco-vezes-no-governo-bolsonaro-exercito-tem-674-mil-autorizacoes-ativas-mostra-anuario.ghtml>. Acesso em: 05/04/2023.

[4] Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/10/bancada-da-bala-tera-mais-de-cem-representantes.shtml>. Acesso em: 05/04/2023.

[5] Disponível em: <https://www.inesc.org.br/balanco-do-orcamento-2019-2021-revela-desmonte-generalizado-de-politicas-sociais-diz-inesc/>. Acesso em: 05/04/2023.

[6] Disponível em: <https://media.campanha.org.br/acervo/documentos/CARTA_ABERTA_EM_DEFESA_DA_REVOGACAO_DA_REFORMA_DO_ENSINO_MEDIO_final-1.pdf>. Acesso em: 05/04/2023.

[7] Disponível em: <https://campanha.org.br/noticias/2019/10/03/nota-de-repudio-na-contramao-do-nordeste-a-adesao-do-governo-do-estado-do-ceara-ao-programa-nacional-das-escolas-militares/>. Acesso em: 05/04/2023.

[8] Disponível em: <https://campanha.org.br/acervo/relatorio-ao-governo-de-transicao-o-ultraconservadorismo-e-extremismo-de-direita-entre-adolescentes-e-jovens-no-brasil-ataques-as-instituicoes-de-ensino-e-alternativas-para-a-acao-governamental/>. Acesso em: 05/04/2023.

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Artigo : O que significa o fim dos programas policiais na TV no Ceará?

Reproduzimos aqui artigo de Ricardo Moura publicado originalmente no jornal OPOVO do dia 24 de janeiro de 2022., em que analisa o anúncio do fim de alguns programas policiais na TV cearense.  Ricardo Moura é jornalista, cientista social e  autor do Blog Escrivaninha,  

 

O que significa o fim dos programas policiais na TV no Ceará?

Por Ricardo Moura

A forma como compreendemos e percebemos a violência cotidiana se deve muito ao modo como ela é relatada nos meios de comunicação. Notícias relacionadas a crimes ou atos violentos sempre aguçaram a imaginação e os sentidos do público. Não à toa, O POVO possui uma coluna sobre segurança pública quinzenal, assinada por mim, mas que poderia perfeitamente ter uma periodicidade semanal, haja vista a quantidade de assuntos a serem tratados.

Na busca por retorno comercial, contudo, determinadas ocorrências passam a ser superdimensionadas, borrando os limites entre o interesse jornalístico e o sensacionalismo. A narrativa sensacionalista migrou dos jornais impressos para as ondas do rádio até chegar aos “programas policiais” de TV. Nessa perspectiva, não basta apenas narrar o fato: é preciso mexer com as emoções de quem assiste a reportagem, tocando profundamente suas sensações, medos e ódios para que se possa reforçar, a partir daquele episódio, uma determinada moralidade que costuma enxergar o mundo como uma luta do bem versus o mal.

No seu auge, a televisão cearense chegou a veicular 50 horas desse tipo de conteúdo por semana, entre transmissões ao vivo e reprises. Recentemente, é possível perceber uma mudança drástica nesse mercado com o fim de tradicionais programas do gênero. Em 2020, o Barra Pesada, apresentado pela TV Jangadeiro, foi descontinuado. Na semana passada, o Comando 22 e o Rota 22 deixaram de ser exibidos pela TV Diário. O que significam tais mudanças? O debate é complexo, mas seguem algumas reflexões possíveis dentro dos limites desta coluna.

Os programas policiais sempre foram criticados pela abordagem adotada, chegando, muitas vezes, a serem acusados de cometer violações de direitos em suas coberturas jornalísticas. Em 2011, o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca) fez um diagnóstico preciso sobre o modus operandi de como a criminalidade e a violência eram retratadas pelas emissoras locais a partir da análise de 42 edições na íntegra. O resultado desse levantamento pode ser conferido no relatório “[Tele]visões: violência, criminalidade e insegurança nos programas policiais do Ceará”.

Dentre as conclusões da pesquisa, destaca-se: “Sem a contextualização do noticiário, que considere causas e consequências da violência, perfil do problema e soluções para ele, as mortes e as dores pelas vidas ceifadas acabam sendo banalizadas. Ao mesmo tempo, o exagero característico na cobertura dos casos só aumenta na população os sentimentos de medo e impotência”.

Ao longo da última década, no entanto, foi possível perceber um esforço, por parte desses programas, em se reformularem na busca de um maior equilíbrio entre as demandas do público e o retorno comercial. O Barra Pesada começou a apostar mais no jornalismo de serviço, dando um tratamento menos sensacionalista às suas reportagens, por exemplo. Em busca de audiência, por outro lado, os noticiários televisivos tradicionais passaram a incorporar as pautas e a estética dos programas policiais em sua cobertura diária.

A disseminação das redes sociais e, mais especificamente, a facilidade em produzir registros audiovisuais é um fator que provocou uma verdadeira revolução na forma como os meios de comunicação passaram a cobrir a temática da criminalidade e da violência. Boa parte das imagens veiculadas na TV vem de câmeras internas de vigilância e de smartphones, revelando, como consequência, o momento exato em que determinado fato acontece. O efeito colateral dessa ferramenta é fazer com que ocorrências sem interesse público ganhem projeção desmedida simplesmente por terem sido registradas e compartilhadas nas mídias digitais.

Essa situação se agrava com o enxugamento das redações e consequente redução das equipes de reportagem. Cada vez mais os repórteres fazem seu trabalho distantes das ruas, permitindo que a geração da matéria-prima dos telejornais fique a cargo da população e dos próprios agentes de segurança sob a forma da “participação do cidadão”. A ampliação desse fenômeno deu origem a diversos grupos de whatsapp e perfis do Instagram em que notícias, imagens e vídeos sobre crimes e violência são compartilhados, conferindo novos contornos ao sensacionalismo.

Acidentes, agressões, execuções etc. Uma infinidade de imagens brutais transita de um aparelho celular para outro de forma incessante para alimentar um desejo mórbido que nunca se satisfaz. Trata-se de um manancial de notícias que se encontra ao alcance da mão a qualquer hora do dia e sem nenhuma espécie de filtragem ou preocupação com os direitos sobre a imagem de quem é retratado ali.

Do ponto de vista de uma economia da comunicação, embora possa ser capitalizada por meio de anúncios, toda essa produção amadora circula de forma gratuita e instantaneamente, dispensando a necessidade de esperar o jornal do meio do dia para ter acesso a esse tipo de conteúdo. De forma irônica, parte da explicação pelo fim dos programas policiais na TV se deve não ao desinteresse do público pelo assunto, mas por seu excesso de avidez, com todas as consequências possíveis derivadas desse comportamento.

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Sarau do Tambores do Gueto encerra Fomento do CEDECA 2021

Com um sarau cheio de boas energias e homenagens, o coletivo Tambores do Gueto encerrou as atividades do Fomento do Centro de Defesa da Criança e do Adolescentes (CEDECA Ceará) em evento realizado no Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS) no sábado (11/12).

O sarau prestou homenagem a Geovane Rodrigues, integrante do coletivo e jovem assassinado em outubro. O encontro reuniu poesia, dança, música e performance, mostrando mais uma vez a diversidade e a força da arte produzida na periferia de Fortaleza. Com os recursos do Fomento, o Tambores realizou formações em teatro e música com 90 crianças dos bairros Granja Lisboa e Granja Portugal.

Eli Rodrigues, percussionista do grupo, conta que o Fomento foi essencial. “Esse processo fortaleceu o grupo. Com a pandemia, os artistas ficaram sem eventos, muitos tiveram que se dedicar a empregos formais e largaram suas produções. O Fomento do CEDECA nos deu um gás para continuar. Nós fazemos arte por amor, mas é preciso também sobreviver, se alimentar”

 

Lany Maria, tutora do coletivo Tambores do Gueto durante o Fomento, ressaltou a importância de se investir na produção da juventude periférica. “Eu queria agradecer ao CEDECA pelo edital de Fomento, porque um edital que libera uma grana para a juventude fazer ‘corre’ fortalece a criatividade, principalmente nos bairros periféricos. Queria agradecer ao CDVHS que está sempre de portas abertas, um parceiro que está sempre de mãos dadas com a gente.”

 

Apesar da dor, o afeto

Abraçada com os demais integrantes do Tambores, Lany fez uma fala emocionada de agradecimento. “O tanto que foi difícil a gente continuar depois do acontecido com Geovane, fazer um sarau, tocar as coisas. Foi difícil, mas sem vocês que estão aqui hoje e que estiveram com a gente, nos acolhendo… É um dia de agradecimento. O projeto se encerra, mas o ‘corre’ continua para dizer que aqui tem vida, que a gente não quer mais enterrar ninguém e são esses projetos que mantêm a gente forte.”

                                                                 

 

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Chacina do Curió completa seis anos, livro traz memória das vítimas e luta por justiça continua

Será lançado no próximo dia 11, às 18h, no auditório da Biblioteca Pública do Estado do Ceará (Bece), o livro “Onze – Movimento Mães e Familiares do Curió com amor na luta por memória e justiça”. A obra traz, no relato de mães e familiares , as histórias de vida e sonhos interrompidos das 11 vítimas que, de acordo com o Ministério Público, foram mortas por policiais , nessa que é uma das maiores chacinas da história do Ceará. Fruto de um denso trabalho que envolveu dezenas de profissionais e instituições, “Onze” é um marco na luta por memória e justiça das vítimas de violência cometidas por agentes do Estado.

O livro é retrato humano e justo idealizado por uma das mães, realizado por todo o coletivo e escrito com o compromisso e sensibilidade de educadoras populares do CEDECA Ceará e de professoras comprometidas das universidades públicas federal e estadual, todas mulheres militantes de direitos humanos, e jovens moradores e historiadores do Curió. Nas mais de 150 páginas, textos, ilustrações e fotografias apresentarão ao público quem eram Álef Souza Cavalcante, Pedro Alcântara Barroso do Nascimento Filho, Jandson Alexandre de Souza, Renayson Girão da Silva, Patrício João Pinho Leite, Jardel Lima dos Santos, Antônio Alisson Inácio Cardoso, Marcelo da Silva Mendes, Valmir Ferreira da Conceição, Francisco Elenildo Pereira Chagas e José Gilvan Pinto Barbosa.

Para que não se repita com o filho de ninguém

Com o lema “Transformei meu luto em luta”, o Movimento Mães e Familiares do Curió tem ao longo dos anos sido espaço em que parentes das vítimas encontram conforto e organizado lutam por reparação da violência sofrida. O movimento tem recebido apoio de instituições e coletivos que atuam no campo dos direitos humanos e, cada um ao seu modo, fortalecem a difícil tarefa de tocar todos os dias em suas próprias feridas na busca por justiça. Articuladas com movimentos nacionais, durante o mês de maio participaram do 5º Encontro Nacional de Mães e Familiares Vítimas do Terrorismo do Estado. O objetivo é transformar o mundo para que outras não famílias não passem por essa mesma dor.

Ecoa a voz da saudade, ecoa o clamor por justiça

As narrativas também pode ser ouvidas, por meio do audiolivro Onzedisponível no Spotify. Já são cinco episódios disponíveis e toda quinta-feira um novo é publicado, sempre trazendo a história de uma das vítimas na voz de sua mãe ou parente. Os títulos de cada episódio já apontam para o quanto sensível é a proposta: “Meu amado filho Álef nuna será esquecido!” , “Meu filho, amigo e parceiro: a memória ensinando a viver com a saudade de Patrício”, “Renayson, mais que um filho, um amigo e confidente”, “Jadson, o garoto com nome de rico e paixão por animais”, “A história de Ana e Gilvan”, e assim seguem os capítulos ecoando as vozes de mães e avós em depoimentos profundos e emocionantes.

Parcerias e apoio

O livro foi realizado em parceria com o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (CEDECA Ceará), Grupo de Pesquisa e Intervenções sobre Violência, Exclusão Social e Subjetivação (VIESES/UFC), Laboratório de Estudos e Pesquisas Participativas Sobre Infância, Cultura e Subjetividade (LINCS), Movimento Cada Vida Importa, Grupo de Pesquisa Margens, Cultutas e Epistemologias Dissidentes (GEPE Margens), Fórum Popular de Segurança Pública (FPSP Ceará), Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Trajetórias Juvenis, Afetividades e Direitos Humanos (Travessias) e Núcleo Cearense de Estudos e Pesquisas sobre a Criança (NUCEPEC). Tem ainda o apoio de Kinder Not Hilfe, Instituto OCA e Misereor.

Programação

Durante os primeiros dez dias de novembro, uma série de atividades puxadas pelo Movimento e seus parceiros será realizada de forma virtual e presencial. Para acompanhar a agenda, siga o perfil oficial do Movimento no Instagram: @movmaesdocurio. A programação inclui:

Dia 03: Roda de Autocuidado com o Movimento de Mães e Familiares do Curió.
Dia 04: 17h Webnário Laboratório de EStuidos da Violência da UFC. Tema: Cidade e Violência.
Dia 05: 16h Live Memória, Justiça e Reparação
Dia 06: Sarau no Cuca Jangurussu com o coletivo Meraki do Gueto.
Dia 07: Mobilização virtual.
Dia 08: 14h Audiência Pública na Assembleia Legislativa e pré-lançamento do livro.
Dia 09: 16h Grupo de Estudo Travessias.
Dia 10: Seminário virtual da Unifanor.

Serviço:

Lançamento do livro “ONZE – Movimento Mães e Familiares do Curió com amor na luta por memória e justiça”
Quinta, 11, 18h, Auditório da Biblioteca Pública do Estado do Ceará (Bece)
Avenida Presidente Castelo Branco 255 – ao lado do Dragão do Mar
Evento para convidados.

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