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Análise constata baixa execução orçamentária em 2015 na política infantojuvenil e novos cortes para 2016

Com o objetivo de dar visibilidade à execução do orçamento público municipal em relação às políticas públicas direcionadas para crianças e adolescentes, o CEDECA Ceará participa nesta quarta (18), a partir de 9h da manhã, da Tribuna Livre na Câmara Municipal de Fortaleza.

A solicitação do espaço foi feita após o CEDECA constatar, em análise da execução orçamentária, que os gastos para a área da infância não estão sendo priorizados em Fortaleza, o que descumpre o princípio constitucional da prioridade absoluta para infância, adolescência e juventude (art. 227) e artigo 4ª do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Em análise o CEDECA comprovou que programas como o PONTE DE ENCONTRO (que atende crianças e adolescentes em situação de rua), o ATENDIMENTO PSICOSSOCIAL A CRIANÇAS E ADOLESCENTES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL – REDE AQUARELA e até a gestão do PLANO PRIMEIRA INFÂNCIA, tão amplamente publicizado pela Prefeitura, estavam até o mês de agosto de 2015 com 0% de execução. Já o ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL de crianças e adolescentes, voltado para crianças em situação de rua, abandono e vítimas de violência sexual, teve 26,48% de execução e a MANUTENÇÃO DOS CONSELHOS TUTELARES apenas 3,34%.

Para mais dados, acesse aqui a “NOTA TÉCNICA ESPECIAL: a prioridade absoluta na execução orçamentária do município de Fortaleza”, do CEDECA Ceará.

CORTES PARA 2016

Além da análise da execução orçamentária de 2015, será avaliado o Projeto de Lei Orçamentária Anual 2016 (PLOA), que prevê redução de recursos para infância, tais como:

ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL A CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DIREITOS VIOLADOS: redução de 12,60%

ATENDIMENTO PSICOSSOCIAL A CRIANÇAS E ADOLESCENTES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL – REDE AQUARELA: redução de 41,49%

MANUTENÇÃO DOS CONSELHOS TUTELARES: redução de 28,91%

Nos chama atenção especialmente a redução na rubrica do Conselho Tutelar, uma vez que o Poder Público vem apontando a ampliação de seis para oito Conselhos, no entanto o PLOA prevê redução de recursos e apresenta estimativa de despesa apenas com os seis equipamentos já existentes.

RETROSPECTIVA: CORTES EM 2015

O PLOA 2015 apresentado pela Prefeitura indicava um corte de quase 10 milhões para área da infância e adolescência. Entidades do Fórum DCA e diversas organizações e movimentos que atuam pela defesa e garantia dos direitos infantojuvenis acompanharam a tramitação do Projeto e incidiram pela reversão corte. Após quase dois meses de mobilização intensa, de estudos e debate interno, audiência pública, diálogo com parlamentares e reuniões com comissões, acompanhamento de sessões e duas votações adiadas, no dia 23 de dezembro de 2014 (último dia do ano possível para realização de votação) o plenário da Câmara Municipal de Fortaleza votou e aprovou o PLOA 2015 com a reversão dos cortes anteriormente propostos.

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NOTA PÚBLICA SOBRE O COLAPSO DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO CEARENSE E A MORTE DO ADOLESCENTE MÁRCIO FERREIRA DO NASCIMENTO

O Fórum Permanente das Organizações Não Governamentais de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes do Ceará (Fórum DCA Ceará) vem a público manifestar profunda indignação diante o colapso do Sistema Socioeducativo do Estado do Ceará, que culminou na noite de ontem (06/11/2015) com a morte por arma de fogo de um interno do Centro Educacional São Francisco, Márcio Ferreira do Nascimento, 17 anos, bem como denunciar a omissão do Governo do Estado do Ceará frente às inúmeras violações à dignidade humana dos adolescentes internados e suas famílias.

Vimos acompanhando, desde 2008, o agravamento da crise do Sistema Socioeducativo do Estado, que tem como expressão mais visível a eclosão de rebeliões e motins, em frequência inédita a partir de 2014, nas unidades de cumprimento de medida de internação. Ao longo desse tempo, foram realizadas dezenas de inspeções, pela sociedade civil e sistema de justiça; houve interposição de quatro ações civis públicas, desde o ano de 2009; protocolo de Petição na Comissão Interamericana de Direitos Humanos pela sociedade civil em 2015; solicitação de todo tipo de providências junto aos órgãos governamentais diante as graves denúncias de tortura, abuso de autoridade, isolamento compulsório, insalubridade e diversos tipos de irregularidades no cumprimento da medida socioeducativa no Estado. Nas unidades de atendimentos socioeducativo do Ceará, os internos são tratados de forma absolutamente desumana, destituídos de qualquer forma de dignidade. O baixo número de socioeducadores, somada à falta de preparo e formação dos profissionais e às condições absolutamente precárias de trabalho no interior das unidades, agrava a situação interna de tensão e violência.

Temos ainda participado de dezenas de reuniões e audiências com representantes do Governo do Estado numa tentativa de diálogo e construção de propostas conjuntas. Entretanto, essas tentativas de diálogos tem se mostrado infrutíferas, e decisões judiciais e requisições públicas ministeriais têm sido reiteradamente descumpridas.

Os adolescentes privados de liberdade no Estado, em  sua maioria, tem sido submetidos à violência institucional 24 horas por dia, representadas desde falta de acesso a água potável, precariedade no fornecimento de alimentação, enclausuramento nos seus dormitórios-cela, superlotação que faz com que haja necessidade de revezamento para dormir, até submissão a sessões de tortura, como no episódio dos adolescentes que foram golpeados com barras de ferro na cabeça e aplicação de choque elétrico. Mencione-se, ainda, a restrição do acesso a medicamentos e tratamento médico, a negação do direito à educação escolar, a falta de insumos básicos como colchões e itens de higiene pessoal, além de outros direitos fundamentais. Ressalte-se que, conforme a Lei 9455/1997, a responsabilidade pelo crime de tortura praticada no interior das unidades de privação de liberdade pode ser estendida aos gestores públicos.

De meados de 2014 para cá, contabiliza-se mais de 60 rebeliões e motins no Estado, sendo 15 delas somente nos últimos 30 dias. Tais episódios são apenas a expressão mais visível das massivas violações de direitos desses adolescentes, que não por acaso são oriundos das classes populares, os mesmos que constam nas estatísticas que fazem de Fortaleza a capital com maior índice de homicídios entre os adolescentes (IHA 2015/Governo Federal).

A gravidade da situação é tamanha que foi constituída comissão especial nos âmbitos do Conselho Nacional de Direitos Humanos e do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente de acompanhamento do Ceará, cujos membros estiveram em visita nas unidades palco das últimas rebeliões nesta semana e atestaram a falência absoluta do Sistema Socioeducativo.

Mesmo com essa tragédia anunciada há tempos, o Governo do Estado não tomou as medidas necessárias para reversão desse quadro, que veio se agravando vertiginosamente nos últimos três meses e culminou ontem na morte de um socioeducando. Os adolescentes privados de liberdade estão sob a tutela estatal, sendo de sua responsabilidade resguardar-lhes a vida e a integridade física e psíquica, bem como todos os seus direitos fundamentais. Ao descumprir a Lei Federal que institui o SINASE os gestores incidem em crime de improbidade administrativa, nos termos dos artigos 28 e 29 da Lei 12.594/2012.

Ao violar massivamente os direitos individuais e sociais dos adolescentes internos, o Governador do Estado e o Secretário de Trabalho e Desenvolvimento Social incorrem flagrantemente em crime de responsabilidade, passível de prisão, em conformidade com a Lei Federal 1.079/1950 e a Constituição do estado do Ceará.

À vista de tantas tragédias e reiteradas omissões por parte do Governo do Estado do Ceará, compreendemos a necessidade URGENTE das seguintes medidas:

 – Afastamento imediato do secretário da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado do Ceará (STDS), Sr. Josbertine Clementino;

 – Decretação de Estado de Emergência por parte do Sr. Governador, com elaboração de plano de ação emergencial e constituição de comissão de monitoramento com a participação do sistema de justiça e de organizações da sociedade civil;

Abertura de inquérito para investigar e responsabilizar o(s) responsável(eis) pelo homicídio do adolescente Márcio Ferreira do Nascimento no dia 06 de novembro de 2015;

Concurso imediato para Agentes Socioeducativos e Equipe Técnica das Unidades de Atendimento Socioeducativo do Estado;

Representação junto ao Ministério Público solicitando instalação de inquérito para responsabilização do Sr. Governador e do Sr. Secretário por improbidade administrativa e por crime de tortura contra adolescentes em restrição de liberdade no Estado.

E, finalmente, vimos prestar toda solidariedade à família do adolescente Márcio Ferreira do Nascimento, que faleceu no dia 06 de novembro em decorrência de ter sido atingido por arma de fogo quando em cumprimento de medida socioeducativa de internação, e cobrar que o Governo do Estado preste toda assistência necessária.

Fortaleza, 07 de novembro de 2015.

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Governo do Estado perde o controle do Sistema Socioeducativo

O Sistema Socioeducativo cearense está desmoronando. Em 05 dias ocorreram 10 episódios conflituosos, em 05 Unidades de Internação (provisória ou definitiva) das 07 existentes em Fortaleza. Das outras duas, o Centro Educacional Patativa do Assaré está sem nenhum adolescente, desde o último episódio de rebelião na Unidade em setembro, quando ficou sem condições de receber adolescentes e encontra-se, desde então, em reforma. A outra é a Unidade Canindezinho, inaugurada este mês, que está com aproximadamente 60 adolescentes e com problema estrutural[1] de falta d’água.

Com o agravamento do contexto, a Justiça publicou portaria suspendendo a internação de adolescentes do interior[2] nas Unidades de Fortaleza por 90 dias. Os adolescentes apreendidos deverão cumprir medidas socioeducativas de meio aberto em seus municípios, exceto em casos específicos ou de maior gravidade.

Sistema de Justiça realiza coletiva sobre crise no Sistema Socioeducativo

Amanhã, 21 de outubro, às 08h, integrantes do Sistema de Justiça realizarão uma coletiva de imprensa na sede da Procuradoria Geral de Justiça (Rua Assunção, 1100 – José Bonifácio), para abordar a crise no Sistema Socioeducativo e as ações encaminhadas para minimizar os danos e reverter o quadro de gravíssimas violações de direitos humanos.

Estarão presentes representantes do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), através da 7ª Promotoria da Infância e da Juventude, a Defensoria Pública Geral do Estado (DPGE) por meio do Núcleo de Atendimento a Adolescente em Conflito com a Lei – NUAJA, o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE), através do juizado da 5ª Vara da Infância e da Juventude.

ÚLTIMOS EPISÓDIOS

Já na sexta feira que sucedeu a reunião do Conselho Nacional de Direitos Humanosdia 09.10, houve uma tentativa de fuga no Centro Educacional São Miguel. Os adolescentes serraram as grades, mas foram contidos.

Na noite do dia 13.10, ocorreu uma nova rebelião no Centro Socioeducativo Passaré e deixou a Unidade significativamente danificada. O Centro possui 24 dormitórios disponíveis em sua estrutura, no entanto, após a rebelião, apenas sete permanecem em funcionamento, abrigando um total de 207 adolescentes. A capacidade máxima do Passaré, nos 24 dormitórios, é de 90 adolescentes. De acordo com informações da direção, cinco adolescentes conseguiram fugir. A Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS) transferiu parte dos adolescentes para outras Unidades. A Unidade de Recepção (triagem) recebeu 20 adolescentes e outros 10 foram encaminhados para o Canindezinho, casa recém-inaugurada pela Secretaria.

Recebemos denúncias de familiares de adolescentes internos no Passaré que a motivação da rebelião teria sido a entrega da comida na Unidade. De acordo com os familiares, os adolescentes relatam que os instrutores frequentemente jogam a comida dentro dos dormitórios e que eles precisam fazer suas próprias colheres, com papel, porque não distribuem na casa.

Na manhã do dia 14.10, por volta de 9h30, um novo episódio foi iniciado, desta vez pelo agravamento da superlotação e o amontoamento nos dormitórios, uma vez que apenas sete dormitórios da Unidade estavam em funcionamento.

Nesse mesmo dia 14.10, no Centro Educacional Dom Bosco (CEDB), houve uma rebelião com a queima de colchões em protesto ao enclausuramento (ausência das atividades externas, fora dos dormitórios). De acordo com a direção, parte da equipe da unidade, foi remanejada para o Canindezinho (Unidade recém inaugurada), deixando o Dom Bosco com a equipe defasada e sem direção. Com um contingente reduzido, a Unidade deixou de liberar os adolescentes dos dormitórios diariamente e de realizar as atividades de educação e lazer, motivação da agitação dos adolescentes que reivindicavam a saída dos dormitórios. Esse episódio foi gerado a partir da má gestão da Secretaria.

Veja mais em: Novas rebeliões agravam crise no Sistema Socioeducativo cearense 

Dia 15.10, à noite, rebelião no Centro Educacional São Francisco (CESF). Houve uma tentativa de fuga, por parte de 15 adolescentes. Foram contidos por instrutores da Unidade e da Unidade vizinha, São Miguel. Nessa contenção, os instrutores golpearam os adolescentes na cabeça com barras de ferro, num episódio que poderá ser caracterizado como tentativa de homicídio e está sendo alvo de investigação pelo Ministério Público. No dia seguinte (16.10) pela manhã, os mesmos adolescentes foram acordados pelos instrutores com novas sessões de torturas. No dia 16 à noite, estiveram presentes integrantes do Conselho Estadual de Direitos Humanos e do Fórum Permanente das ONGs de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes do Ceará (Fórum DCA), que colheram depoimentos de alguns dos adolescentes. O dormitório ainda estava bastante ensanguentado e os adolescentes sequer haviam tomado banho, seus corpos ainda cobertos de sangue, e só haviam feito uma única refeição. Um desses adolescentes estava com 17 pontos na cabeça. Apenas os mais graves haviam recebido atendimento médico e não haviam feito exame de corpo de delito. Somente após a visita e como decorrência direta desta, foram providenciados o banho, a refeição e o atendimento médico. Entretanto, os adolescentes ainda estão muito amedrontados e temem pelas suas vidas. Os exames de corpo de delito só foram providenciados depois da ida do Ministério Público, no dia seguinte.

No dia 16.10, com a permanência das condições que deram ensejo a rebelião do dia 14.10, houve novo início de tumulto no Centro Educacional Dom Bosco, em razão do que a polícia foi chamada para realizar uma vistoria na unidade, sem o conhecimento de qualquer órgão do Sistema de Justiça e mesmo da própria Secretaria responsável pela política socioeducativa (STDS). Na ação da polícia, os adolescentes foram colocados nus, de joelhos no cimento áspero e no sol quente por quase uma hora. Pouco tempo depois, representantes da Defensoria Pública, do Conselho Estadual de Direitos Humanos e do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará, chegaram e presenciaram as marcas da tortura que vitimou praticamente todos os adolescentes da Unidade. Uma das denúncias apresentadas pelos adolescentes era que seus familiares passavam por revista vexatória, tendo que ser desnudados para o ingresso da unidade.

No mesmo dia 16.10, houve rebelião no Centro Educacional Passaré, de onde fugiram 06 adolescentes. Os adolescentes estavam há dois dias sem tomar banho e a Unidade estava sem energia elétrica. Ouviram-se inúmeros relatos de agressões por parte de instrutores e policiais, e foram identificados adolescentes lesionados. Há 169 adolescentes em 13 dormitórios. A casa está totalmente sem estrutura.

No último sábado, dia 17.10, houve novos episódios em 02 unidades: Centro Educacional Dom Bosco Centro Educacional São Miguel, que foram visitadas ontem, 19.10, por integrantes da Defensoria Pública e do Fórum DCA. Também foi visitado o Centro Educacional Passaré.

Centro Educacional São Miguel foi praticamente destruído. Dos 16 dormitórios, restaram apenas 05. No momento, 156 adolescentes estão alocados nesses 05 dormitórios. Vários adolescentes foram remanejados para outras Unidades, entre Dom Bosco, Canindezinho e CECAL. A cozinha foi destruída. Houve intervenção policial e os adolescentes foram fortemente agredidos. Adolescentes foram atingidos por tiros de sal, inclusive no rosto. 05 destes estão com ferimentos graves.

No Centro Educacional Dom Bosco houve fuga de 02 adolescentes, na ocasião um instrutor foi lesionado no braço. Como retaliação, houve suspensão do atendimento. Os adolescentes estavam sem água e sem alimentação até ontem, 19.10, quando da chegada da Defensoria Pública e de representantes de organizações da sociedade civil. O clima está bastante tenso. Os instrutores estão se negando a realizar qualquer atividade na Unidade, sob a alegativa de insegurança. Os adolescentes estão bastante agitados. A qualquer momento pode explodir uma nova rebelião. A casa está sem direção, respondendo provisoriamente o coordenador de disciplina, desde a inauguração do Canindezinho.

No Centro Educacional Passaré foram identificados inúmeros adolescentes com hematomas e relatos de violência policial e por parte dos instrutores.Um desses adolescentes estava com ferimento grave e apresentava 10 pontos na cabeça.

Ontem, dia 19.10, os adolescentes fizeram greve de fome no Centro Educacional Cardeal Aloisio Lorscheider (CECAL) devido as péssimas condições e do tratamento ao qual são submetidos. A situação anuncia uma forte possibilidade de rebelião nos próximos dias. Há 103 adolescentes na Unidade, que tem capacidade para 60.

SERVIÇO

Coletiva de imprensa sobre a crise no Sistema Socioeducativo

Com integrantes do Sistema de Justiça e atores do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente

Quarta (21), 08h, na sede da Procuradoria Geral de Justiça (Rua Assunção, 1100 – José Bonifácio)

[1] O Canindezinho foi inaugurado no dia 28 de setembro, já com graves problemas na instalação hidráulica. O sistema instalado tem vazão de uso doméstico, quando deveria ser de uso industrial, uma vez que mais de cem pessoas (se considerada sua capacidade máxima, de 90 adolescentes, mais a equipe técnica) devem ter acesso à água no espaço.

[2] Atualmente o percentual de adolescentes internos em Fortaleza provenientes do Interior chega a 50% e diversos casos não deveriam estar em regime de privação de liberdade.

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Situação do sistema socioeducativo do Ceará é tema de audiência com ministro Pepe Vargas

Audiência Pepe Vargas

Uma audiência com o Ministro de Direitos Humanos, Pepe Vargas, para discutir a situação do sistema socioeducativo no Estado do Ceará foi realizada na terça-feira, 15 de setembro, em Brasília, com a presença dos deputados estaduais do Ceará, Renato Roseno, Zé Ailton Brasil, o vereador de Fortaleza João Alfredo, a representante do Fórum DCA/CE, Francerina Araújo, e o representante da Anced/Seção DCI, Pedro Pereira, da coordenação do Cedeca Rio de Janeiro.

Na reunião, a situação grave e de colapso do sistema socioeducativo no Ceará foi contextualizada com apresentação de dados dos últimos dois anos de rebeliões. No período de 2014 a 2015 foram contabilizadas mais de 40 rebeliões e motins, além da fuga de, aproximadamente, 250 adolescentes.

Os participantes da reunião também destacaram as diversas violações de direitos vivenciadas pelos adolescentes nas unidades de internação, como práticas de torturas institucionais (por ação ou omissão do Estado), superlotação, falta de acesso a tratamento médico e medicamentos, negação do direito à educação escolar, negação do acesso à água, alimentação, incomunicabilidade, dentre inúmeras outras situações encontradas pelas organizações de infância que realizam o monitoramento do sistema socioeducativo do Estado.

O Ceará é um dos estados brasileiros com maiores índices de superlotação, a média de superlotação das unidades antes da interdição de três unidades de internação já superava os 200%. Atualmente, nas unidades não interditadas este índice supera 400%. E mesmo nas unidades que se encontram interditadas, as denúncias de violação de direitos persistem, denotando que não é o grande número de internos, o único problema enfrentado pelos adolescentes.

Como encaminhamento da audiência, o Ministro Pepe Vargas se comprometeu em agendar com prioridade uma visita ao Ceará e mobilizar o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), Comitê de Combate a Tortura e Conselho Nacional da Criança e Adolescente (CONANDA) para reunião de trabalho com realização de uma audiência.

Depois da agenda com o Ministro, o grupo também se reuniu com o Procurador Federal dos Direitos do Cidadão, Aurélio Veiga Rios com o mesmo objetivo.

“Nossa expectativa é que o governo federal, junto como sistema de garantia de direitos e o sistema de justiça local, tomem providências urgentes em relação a grave situação do sistema socioeducativo do Ceará. Infelizmente, essa situação não é um caso isolado, as missões da Renade têm encontrado uma situação preocupante em vários estados do Brasil”, afirmou o representante da Anced/Seção DCI na reunião, Pedro Pereira.

CIDH

Em março deste ano, a Anced, o Fórum DCA e o Cedeca Ceará apresentaram uma Petição à Comissão Interamericana de Direitos Humanos na qual denunciam as gravíssimas violações de direitos de adolescentes privados de liberdade nas oito Unidades Socioeducativas de Internação masculina no Estado do Ceará. Confira o Sumário Executivo da denúncia.

Renade

Em outubro de 2014 a Renade – Rede Nacional de Defesa do Adolescente em Conflito com a Lei, que é coordenada politicamente pela Anced, realizou visita ao estado do Ceará para coletar informações com vistas a produzir um relatório nacional sobre as unidades socioeducativas de privação de liberdade. À época, a Renade também denunciou as violações de direitos humanos vivenciados pelos adolescentes.

Informações da ANCED: http://bit.ly/1FkBFg3

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Batalhão de Choque da Polícia Militar é acusado de espancar e torturar adolescentes no Centro Socioeducativo Passaré

Na noite do último domingo (16), um início de rebelião no Centro Socioeducativo Passaré terminou com dezenas de adolescentes feridos pela ação do Batalhão de Choque da Polícia Militar. A ação da polícia, de acordo com denúncias recebidas, acionada pelos instrutores de plantão, terminou por volta de 20h. A Unidade está há cerca de um mês sem direção. O coordenador de disciplina e as pedagogas estão à frente da gestão da Unidade, que tem capacidade máxima para 90 adolescentes, mas abriga atualmente 197.

Nos últimos dias, outras duas rebeliões ocorreram no Centro Educacional Patativa do Assaré (CEPA), no domingo (16) e na terça (18). Na primeira, também no domingo, onze adolescentes chegaram a fugir do CEPA.

Uma comissão do Fórum DCA[1], composta por representações do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (CEDECA Ceará), do Conselho Regional de Psicologia (CRP11), da Cáritas Regional Ceará e da Pastoral do Menor, visitou o Passaré na tarde de ontem. A comissão constatou dezenas de adolescentes com hematomas e ferimentos expostos, tornozelos torcidos e coletou relatos de sessões de tortura.

Relatos de agressões e tortura

Os adolescentes relatam, com riqueza de detalhes e apontando no corpo as marcas das agressões, a ação do Batalhão de Choque na Unidade.

Com a justificativa de “conter” os adolescentes que estavam batendo e balançando as grades dos dormitórios, a polícia atirou à queima roupa balas de borracha em direção aos dormitórios e lançou gás de pimenta no interior destes. Um dos adolescentes ouvidos pela comissão do Fórum DCA, relatou que chegou a desmaiar por causa do gás.

Após as agressões enquanto estavam trancados, os adolescentes foram retirados dos dormitórios e submetidos a um ritual de tortura. Dispostos em filas, um a um eram golpeados na cabeça com os cassetetes da polícia e ordenados a correr pelo piso molhado e ensaboado. Atordoados pela pancada inicial na cabeça, quem caísse seria pisoteado pelos policiais.

De acordo com o relato dos adolescentes, a sessão ocorreu no corredor dos dormitórios e na quadra da Unidade.

A equipe do CEDECA Ceará entrou em contato na noite de ontem com representantes da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS)[2], que nega a tortura e o episódio com o sabão. A pasta afirma que acompanhou toda a ação da polícia e alega apenas que “pode ter havido excessos”.

O Fórum DCA ouviu depoimentos de adolescentes de sete dos dez dormitórios ocupados da Unidade relatando o ritual de tortura com o sabão.

Exame de corpo de delito e atendimento médico

Na segunda, poucas horas após o episódio, uma comissão com nove defensores/as públicos, o Juiz titular da 5ª Vara da Infância, Manoel Clístenes e a Promotora da 5ª Vara da Infância, Fátima Valente, visitou a Unidade. Constatando as agressões, a Defensoria recomendou que 53 adolescentes fossem encaminhados para o exame de corpo de delito.

Até a noite de ontem, após a visita do Fórum, apenas sete adolescentes haviam sido encaminhados para o exame e poucos tinham recebido atendimento médico. A comissão constatou, dois dias após o episódio, diversos adolescentes com hematomas de cassetetes, feridas expostas e alguns com os tornozelos torcidos pelos pisões dos coturnos dos policiais. Muitos ferimentos e marcas ainda estavam bem visíveis.

A STDS alegou não dispor, naquele momento, de estrutura para garantir atendimento médico, nem para escoltar e transportar os adolescentes para a realização do exame.

Em um novo contato feito hoje pela manhã, a Secretaria informou que está tomando as providências e que os demais adolescentes estão sendo encaminhados para atendimento médico e realização do exame.

Encaminhamentos

O Fórum DCA oficiou a STDS, o Gabinete do Governador do Estado, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará, a Corregedoria Geral dos Órgãos de Segurança Pública, a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas dos Direitos Humanos do Estado do Ceará, a 5° Vara da Infância e Juventude, a Coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça, a 7° Promotoria da Infância e da Juventude, o Núcleo de Atendimento aos Jovens e Adolescentes em Conflito com a Lei (NUAJA), da Defensoria Pública e a Comissão da Infância e Juventude da Assembleia Legislativa do Ceará, requerendo a apuração das denúncias e, em sendo o caso, a responsabilização de todos os agentes públicos envolvidos, direta e indiretamente.

Veja as imagens dos ferimentos dos adolescentes:

Arquivo FDCA Passaré 18.08.15 (2) Arquivo FDCA Passaré 18.08.15 (3) Arquivo FDCA Passaré 18.08.15 (1)

Arquivo FDCA Passaré 18.08.15 (4) Arquivo FDCA Passaré 18.08.15 (6)  Arquivo FDCA Passaré 18.08.15 (5)

[1] Fórum Permanente das ONGs de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes, articulação da sociedade civil organizada que realiza o monitoramento do Sistema Socioeducativo no Ceará desde 2008.

[2] Responsável pela gestão das Unidades.

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No aniversário do ECA entidades realizam intervenção na Praça do Ferreira

Na segunda-feira, 13 de julho, as várias instituições que compõem a Frente Cearense Contra Redução da Maioridade Penal e o Fórum Permanente das ONGs de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes (Fórum DCA) realizarão um ato simbólico em alusão ao aniversário de 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ato será na Praça do Ferreira a partir das 8h.

O ECA foi promulgado em 1990, em substituição ao Código de Menores, para estabelecer e garantir os direitos das crianças e adolescentes no Brasil, bem como os deveres do Estado para com estes.

No entanto, diante da atual conjuntura política, social, cultural e midiática, do desconhecimento do ECA por grande parte da população dos vários retrocessos que colocam ainda mais à margem o direito de crianças e adolescentes, o que comemorar?

Recentemente a Câmara dos Deputados aprovou a redução da maioridade penal contra crimes graves. A votação, batizada como “Golpe do Cunha”, sob comando do presidente da câmara Eduardo Cunha, ocorreu na calada da noite. A votação suspeita e considerada inconstitucional, já que poucas horas antes a proposta de redução da maioridade penal para crimes hediondos havia sido negada pela Câmara, provocou protestos de inúmeras entidades em todo país.

Os dados apontam contra os discursos inflamados que tentam colocar os adolescentes como principais agentes da violência no Brasil: dos 21 milhões de adolescentes brasileiros apenas 0,013% cometeu atos contra a vida. Por outro lado, somos o segundo país que mais mata adolescentes no mundo – aproximadamente um por hora. Em 2012 os brasileiros assassinados foram 56 mil, 30 deles eram jovens e 77% destes negros.

Diante dessa situação e compreendendo que é fundamental visibilizar as violações cometidas contra crianças e adolescente no Brasil e as determinações do ECA, desconhecidos por tantos, a Frente Cearense Contra a Redução da Maioridade Penal e o Fórum DCA estarão na Praça do Ferreira neste dia 13 dialogando com a população com panfletos e intervenções culturais, reafirmando que lutar pelo ECA é também lutar contra a redução.

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